Milhares de libaneses saíram às ruas, neste sábado, 8, em Beirute, para protestar contra a classe política que eles culpam pelas terríveis explosões que devastaram parte da capital, matando mais de 150 pessoas e ferindo 6.000.
Na Praça dos Mártires, epicentro da contestação popular desde outubro passado e onde os manifestantes se reuniram neste sábado sob o lema “Dia do Julgamento”, guilhotinas foram instaladas.
“Vingança, vingança, até a queda do regime”, gritavam os manifestantes, alguns usando máscaras, outros bandeiras ou retratos das vítimas da explosão, enquanto as forças de segurança tentavam impedir alguns grupos de avançar em direção ao parlamento, de acordo com correspondentes da AFP.
Nas ruas adjacentes à manifestação em grande parte pacífica, apesar das tensões, agentes de segurança dispararam gás lacrimogêneo, enquanto confrontos limitados os colocaram contra alguns manifestantes que atiravam pedras.
“Depois de três dias limpando os escombros e curando nossas feridas, é hora de deixar nossa raiva esvair e puni-los por matar pessoas”, declarou Farès al-Hablabi, de 28 anos.
“Devemos nos levantar contra todo o sistema (…) a mudança deve ser compatível com a escala do desastre”, acrescentou este militante que saiu às ruas no momento da eclosão do levante popular em 17 de outubro de 2019.
Se o movimento perdeu força nos últimos meses, especialmente devido à pandemia de coronavírus – que continua se agravando no Líbano – a tragédia pode reanimá-lo.
“Não temos mais nada a perder. Todos devem ir para as ruas”, disse Hayat Nazer, uma militante por trás de muitas iniciativas de solidariedade.
Desaparecidos
Pelo quarto dia consecutivo, Beirute acordou ao som de vidro quebrado recolhido nas ruas pelos moradores e um exército de voluntários, equipados com vassouras e mobilizados desde o amanhecer.
O incidente de terça-feira no porto, cujas circunstâncias ainda não estão claras, teria sido causado por um incêndio que afetou um enorme depósito de nitrato de amônio, um produto químico perigoso.
As imagens do momento da catástrofe mostram uma deflagração que muitos compararam às bombas atômicas sobre o Japão em 1945, enquanto as equipes de resgate comparavam as cenas de destruição às resultantes de um terremoto.
O desastre deixou pelo menos 158 mortos, mais de 6.000 feridos, incluindo 120 em estado crítico, de acordo com o ministério da Saúde libanês, além de quase 300.000 desabrigados.
O ministério também revisou o número de pessoas desaparecidas, indicando que agora seria de 21.
Conteúdo: Agência France-Presse
Foto: STR / AFP