novembro 23, 2024 15:48

Guerra na Ucrânia pode atrapalhar medidas econômicas de Bolsonaro

A fim de evitar que a invasão da Ucrânia pela Rússia cause desgastes que se reflitam na campanha de reeleição, Jair Bolsonaro (PL) voltou seus esforços para medidas de cunho popular que desviem a atenção do eleitorado de problemas econômicos causados pelo conflito no Leste Europeu.

Já é certa, por exemplo, a liberação do saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de até R$ 1 mil por trabalhador com saldo disponível na conta, além de um pacote de crédito de R$ 100 bilhões para micro e pequenos empresários.

O presidente também tem especial interesse nas votações relacionadas aos combustíveis no Congresso, que devem se intensificar esta semana. As bondades devem chegar a R$ 150 bilhões e começam a ser divulgadas amanhã, Dia Internacional da Mulher.

Todo esse aceno ao eleitor, porém, tem custos — e são altos. Isso porque, entre especialistas, aumenta o receio de um desequilíbrio fiscal, que, no médio prazo, engoliria o pacote de benesses. A inflação, em rota de subida, ainda pioraria o cenário, pois refletiriam a fatura da guerra. Não apenas a importação de fertilizantes — fundamentais para o agronegócio — e o aumento do barril de petróleo no mercado internacional impactariam a carestia, mas também a redução na oferta de grãos, como trigo, pela Rússia e pela Ucrânia empurra os preços para cima. Já há a expectativa de que aves e suínos ficarão mais caros nas gôndolas exatamente por causa do fechamento do mercado dos dois países em guerra.

O primeiro vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR), classifica o governo como “desastrado e incompetente”. “Basta ver a economia se arrastando, desemprego, pobreza e miséria aumentando em nosso país. Populismo é a marca de um governo completamente despreparado para enfrentar momentos durante quatro anos e agora bate o desespero”, critica.

Para José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), os efeitos econômicos virão independentemente da posição de Bolsonaro em relação ao presidente russo, Vladimir Putin. Ele cita o aumento do preço internacional do petróleo, do gás, do milho, do trigo e da soja como consequências internas do conflito no Leste Europeu.

“Temos uma desvalorização das moedas dos países emergentes, em particular do Brasil ante o dólar, representando aceleração da pressão inflacionária, contrariando as expectativas iniciais do Banco Central de que a inflação começaria a ceder a partir de abril. Nenhuma das medidas que Bolsonaro adotar terá qualquer impacto sobre a cotação internacional das commodities”, diz.

Ritmo lento

Oreiro observa, ainda, que a economia vem em ritmo fraco, e a guerra não ficará de fora da campanha eleitoral. “O boletim Ibre do FGV já mostrava crescimento em ritmo menor do que esperado no início de 2022. Essas medidas do presidente preparadas para o presidente podem ter alguma importância num primeiro momento, mas o impacto (da guerra) sobre a economia brasileira, a partir de abril, vai ser muito forte com a alta inflação de alimentos, economia retraindo e aumento do desemprego. Contra isso, não existe mágica possível”, avalia.

Sérgio Praça, cientista político e professor da FGV, concorda que será inevitável que a inflação e a gasolina subam com o conflito entre Rússia e Ucrânia. “As consequências internacionais serão grandes, e o Brasil vai sentir, assim como o resto do mundo. Não acho que tenha como escapar. As medidas propostas pelo presidente são boas, mas serão engolidas pelo aumento da inflação. Melhor fazer do que não fazer, mas o efeito eleitoral (positivo) será pequeno, pois não fazem parte de um plano econômico coeso. São medidas pontuais.”

Segundo Praça, medidas populistas não são “uma boa maneira de conduzir a economia do país. É um conjunto de erros que a gente vai sentir nos próximos meses. Se pesar no bolso do brasileiro, mesmo que não seja culpa direta (de Bolsonaro), se reflete na popularidade”, garante.

Já o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que o pacote de bondades do presidente terá impacto positivo inicialmente. Mas tem dúvidas se será capaz de ajudar na aprovação do presidente.

“Persistindo o cenário de guerra, o aumento dos combustíveis, que vinha em uma crescente, é um fato que pode deteriorar a aprovação do presidente. Além de questões como o aumento do trigo e, consequentemente, o do pão. Tem ainda os fertilizantes, que podem atrapalhar os produtores e o agro”, salienta.

Para Prando, o governo Bolsonaro é reativo e, quando reage, o faz tardiamente e de maneira malfeita. “Gasto público em ano eleitoral costuma ter um impacto, é inegável. Melhoria do pagamento do Auxilio Brasil, linhas de crédito, tudo isso pode ajudar em regiões em que a pobreza e a miséria são maiores. Tem que ver se haverá tempo para que esse efeito seja traduzido em ganho de popularidade e se converta em voto. Quando a campanha engrenar, os adversários farão de tudo para desgastar e colocar repetidas vezes as ações e as falas de Bolsonaro nesses três anos”, salienta.

Conteúdo: Correio Braziliense

Foto: Divulgação

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