Após duas semanas de recesso, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 retoma os trabalhos nesta terça-feira, 3. Uma série de requerimentos deve ser analisada esta semana.
De acordo com o cientista político Carlos Santiago, a CPI da Covid-19 já expôs o envolvimento de agentes públicos do país com a corrupção ativa e passiva, crimes contra a dignidade da pessoa humana, crime de responsabilidade e prevaricação. Já mostrou ainda contradições de autoridades, enriquecimento de laboratórios farmacêuticos com o tratamento sem eficácia, improbidade de ex-ministros da Saúde e fez o governo mudar de rumos.
No entanto, conforme o especialista, faltam novas investigações e o relatório final com nomes dos responsáveis pela tragédia na pandemia brasileira. “O uso do tratamento sem eficácia já foi constatado. Os medicamentos, como a cloroquina e a ivermectina, indicados no início da pandemia pelo Ministério da Saúde para combater a Covid-19 não surtiram efeitos, mas depois de milhares de mortos e de enriquecimento de laboratórios, deixaram de ser recomendados pelo MS por causa da pressão da CPI e da comprovação científica de suas ineficácias e de efeitos colaterais negativos”, disse Santiago.
Ainda na avaliação do especialista, a cobrança de propina por autoridades do Ministério da Saúde para compra de vacinas e também dificuldades definidas pela administração para aquisição de vacinas. Além de envolvimento de empresários suspeitos dentro do MS para facilitar privilégios, foram também desvendados pela Comissão de Inquérito.
Para Santiago, é necessário haver investigação nas administrações que receberam recursos do governo federal. “Os trabalhos da CPI trouxeram efeitos políticos e eleitorais. O desgaste da imagem do presidente e do governo federal aumentou. Governo ficou mais refém do apoio dos políticos do Centrão. Baixa adesão popular nas manifestações favoráveis ao governo. Houve crescimento político dos senadores comandantes da CPI e o fortalecimento da candidatura do ex-presidente Lula da Silva”, comentou.
Nem todo o desgaste político do governo Bolsonaro vem da CPI. “A economia não consegue diminuir o indicador de desemprego, a pobreza só cresce, os preços da cesta básica estão insuportáveis, o valor da gasolina e do gás de cozinha traz crítica popular, além dos conflitos desnecessários entre o presidente e outros membros dos Poderes da República”, destacou Santiago.
A CPI caminha para os últimos 90 dias de trabalhos. Já é louvável a sua atuação. O povo tem mais informações para analisar o governo e o trabalho da Comissão. Falta avançar nos casos do pedido de propina e investigar os escândalos nos estados com o dinheiro federal. “Nessa fase final, a sociedade precisa ficar vigilante para que as negociações políticas não deixem de fora da lista os nomes de responsáveis por tantas mortes, improbidade e corrupção nos governos”, concluiu o cientista político.
*Carlos Santiago é sociólogo, analista político e advogado
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