novembro 24, 2024 18:34

Ex-secretário diz não serem ilegais altos salários de médicos e desmente governo sobre demissão

Em entrevista exclusiva a O Poder, o ex-secretário de Saúde de Roraima Marcelo Lopes explicou, entre outros assuntos, sobre os contracheques de alguns médicos que chamaram a atenção de deputados estaduais por ultrapassarem o teto constitucional e desmentiu o governo sobre sua demissão. Marcelo deve ser sabatinado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) nesta terça-feira, 25. O depoimento deveria ocorrer no dia 18 de maio, mas foi adiado sem explicações.

Dois dos profissionais ouvidos pela CPI admitiram ter recebido valores que chegaram aos R$ 150 mil, mas alegaram que as altas remunerações se devem ao acúmulo de plantões cujos pagamentos foram feitos em um único mês. Lopes, que foi secretário de Saúde de junho de 2020 a maio de 2021, afirmou à reportagem que sabia desses salários.

“Eu tenho total conhecimento. Inclusive, apesar de ultrapassarem o teto constitucional, há legislação vigente que garante o recebimento desses valores pelos médicos especialistas do nosso Estado. Outro ponto a ser destacado é que não houve vazamento de contracheques. Eles estão disponíveis no Portal da Transparência do governo, como também preconiza a legislação. Não há nenhuma ilegalidade e não houve necessidade de mandar apurar nada nesse sentido”, destacou.

O ex-secretário disse não acreditar haver envolvimento dos médicos convocados pela CPI em qualquer tipo de irregularidade. “Se eles informaram que, por razão de incompatibilidade de agenda, não poderiam comparecer [à CPI], não resta dúvida da importância desses profissionais para a população do nosso Estado”, argumentou Lopes ao ser questionado sobre o fato de eles não comparecerem à Assembleia em duas datas marcadas pela comissão.

Marcelo Lopes foi o sétimo secretário a assumir a Sesau durante o governo de Antonio Denarium (sem partido). Ao ser perguntado se tantas mudanças na pasta não provocam uma descontinuidade dos trabalhos, ele respondeu que cada uma delas [mudanças de secretários] tem um motivo distinto do outro e que cabe ao próprio governador explicar os motivos.

“Não resta dúvida que o turnover [rotatividade] de primeiro escalão em qualquer gestão governamental é prejudicial ao andamento dos trabalhos e desenvolvimento de qualquer projeto de médio a longo prazo”, argumentou.

Não pediu demissão

Lopes nega ter pedido para deixar a Secretaria de Saúde, como divulgou, em nota, o governo do Estado, mas disse ter recebido a exoneração com “naturalidade”. “Não houve pedido da minha parte para deixar a pasta. Pelo contrário, há muito o que ser feito ainda. Já tenho cerca de 20 anos em cargos de primeiro escalão e a gente em geral sempre acaba recebendo a notícia do desligamento da mesma forma que recebe a notícia do convite, de uma hora para outra, por decisão do gestor máximo da pasta”, afirma.

Trabalhos da CPI

“Não há melhor forma de esclarecer cada situação levantada que não seja pelo acompanhamento, até o final, de cada uma delas [denúncias], e cabe exatamente aos órgãos de controle e, principalmente, ao Legislativo, atuarem nessas situações”, diz Marcelo Lopes ao defender os trabalhos da CPI da Saúde, afirmando “estar à inteira disposição para esclarecer e apoiar qualquer iniciativa de combate à corrupção”.

Apesar de ter sido exonerado, o ex-secretário destaca que teve total apoio do governador, Antonio Denarium (sem partido) e do Poder Legislativo. Ele nega ter havido “interferência política” na Saúde, embora o governo e Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), à época presidida por Jalser Renier (Solidariedade), tenham firmado uma “parceria” que, entre outras medidas, culminou na nomeação de Lopes para a pasta. Renier foi afastado da presidência da ALE-RR em janeiro deste ano.

‘Contaminado e tendencioso’

Em março, Marcelo Lopes foi ouvido por mais de quatro horas na Assembleia Legislativa para prestar esclarecimentos sobre a situação da Saúde. Na ocasião, citou algumas medidas adotadas pelo Estado e afirmou que, em Roraima, “ninguém afetado pela doença morreu na calçada”, apesar de o noticiário registrar falta de leitos, profissionais e medicamentos.

À reportagem de O Poder, o ex-secretário disse preferir não opinar sobre o noticiário, que considerou “contaminado e tendencioso”. “Por essa razão, no geral, tudo se torna confuso, pois boa parte da imprensa do nosso Estado é de propriedade de um grupo político que faz oposição ao atual governo”, ressalta, sem citar nomes.

Desvios

Em outubro de 2020, o senador Chico Rodrigues (DEM) foi flagrado com mais de R$ 30 mil na cueca durante uma operação da Polícia Federal de combate a um esquema criminoso, no qual ele estaria envolvido e que teria desviado R$ 20 milhões que seriam destinados ao combate à Covid em Roraima. Marcelo Lopes ainda estava à frente da Secretaria de Saúde.

“O que posso afirmar sobre a referida operação é que, quando da sua deflagração, os R$ 20 milhões de indicação parlamentar de Chico Rodrigues estavam em conta bancária do Fundo Estadual de Saúde, com todas as informações solicitadas pela polícia prestadas na íntegra. Sempre confiei na Justiça e nos órgãos de controle do nosso país. Tenho certeza de que, se alguém tiver dívida com a nossa sociedade, pagará por isso”, contemporiza Lopes.

Outro lado

Questionado sobre a informação de que Marcelo Lopes não havia pedido para deixar o cargo, o governo do Estado enviou nota à reportagem se limitando a dizer que “as nomeações para o primeiro escalão atendem a critérios técnicos relacionados à necessidade da secretaria, autarquia ou presidência em questão”.

 

Érico Veríssimo, para O Poder

Foto: Divulgação/Ascom

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