Aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2014, Joaquim Barbosa hoje está mais imerso no mundo político do que no jurídico. Em 2018, filiou-se ao PSB e cogitou sair candidato à presidência da República. Desistiu. Agora, articula nos bastidores seu apoio para a disputa de 2022 com uma prioridade em mente: tirar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do poder.
A tônica das conversas de Barbosa tem sido a crítica ferrenha ao governo atual. Nas eleições, a intenção do ex-ministro é dar o peso de seu nome à esquerda para derrubar Bolsonaro nas urnas. Para atingir esse propósito, não descarta apoiar eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo duvidando que o petista saia candidato. Na avaliação de Barbosa, Lula pode não querer sair candidato em 2022.
A interlocutores, Barbosa tem dito que não quer se candidatar. Mas essa possibilidade ainda não foi totalmente descartada. Uma decisão, porém, já foi tomada: se não for cabeça de chapa, não será vice de ninguém.
O eventual apoio de Barbosa a Lula seria irônico. Afinal, em 2012, como relator do mensalão, o ministro votou pela condenação dos principais agentes políticos do governo do petista no maior escândalo de corrupção do país conhecido até então. Ainda assim, Barbosa e Lula guardam semelhanças na biografia: ambos têm origem humilde e ganharam notoriedade nacional.
Barbosa e Lula nunca foram amigos. O petista queria nomear o primeiro negro para o STF. Frei Betto apontou Barbosa como a pessoa perfeita para o cargo. Lula abraçou a ideia. Quando sentou-se à cadeira da Corte, o ministro mostrou independência ao votar pela condenação de petistas – inclusive do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Na política, Barbosa poderia ter alçado voos mais altos em 2018 caso tivesse entrado na disputa. Em abril daquele ano, oscilava entre 8% e 10% nas pesquisas de intenção de votos, em terceiro ou quarto lugar da disputa. Mas decidiu abortar os planos pelo excesso de exposição que isso traria para sua vida. Os motivos pessoais e familiares também pesam na escolha de sair ou não candidato em 2022.
Em 2018, Barbosa ainda era popular, com o nome vinculado ao combate à corrupção. Em 2022, não se sabe se a fama permanecerá na memória nacional. Ou seja: o peso político do apoio do ex-ministro ainda não é mensurável.
Nos últimos anos, o mensalão virou passado remoto. O Brasil assistiu ao auge e desmoronamento da Lava Jato. Outro herói nacional também alçou apogeu e amargou queda: o ex-juiz Sergio Moro – que, até agora, não se sabe se terá a foto estampada nas urnas em 2022. Seria uma campanha incomum se os dois juízes estiverem em campo para tentar derrubar Bolsonaro.
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