novembro 23, 2024 17:43

Com direita dividida, manifestações podem representar derrota de Bolsonaro

No Dia da Independência, celebrado nesta terça-feira, 7, Manaus terá três locais de encontro para as manifestações a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Especialistas apontam que o movimento de direita da capital amazonense está dividido e tentando alcançar diferentes grupos, o que pode resultar na derrota de Bolsonaro.

Para O Poder, o cientista político Carlos Santiago explicou que a ideologia de direita não é monolítica, ou seja, indivisível e que esse rompimento demonstra uma forte característica da política brasileira: o personalismo, quando a política é vista como um espaço de interesse de grupos ou pessoas.

“Há inúmeras vertentes do significado de direita. Alguns acham que direita é ir contra a democracia e a favor de um regime militar. Outros defendem que a direita é a defesa das liberdades, da democracia e do indivíduo. Há ainda os grupos defensores da família tradicional. Há inúmeras ideias e vertentes. Algumas até mesmo contraditórias nesse discurso de ‘ser da direita'”, disse o cientista.

De acordo com Santiago, as diferentes propostas somadas com os interesses políticos e eleitorais de cada grupos específico culminaram neste conflito de datas e locais para as manifestações do dia 7 de setembro.

“No Amazonas, o grupo do Silas Câmara (Republicanos) tem interesse nas denominações religiosas. O grupo do Coronel Menezes (Patriota) é mais ligado a grupos militares. E tem um grupo empresarial coordenado por Romero Reis (sem partido). E dentro de cada um deles, existem outros grupos com projetos políticos diferentes”, explicou Carlos Santiago.

A falta de unidade local e a revelação de interesses políticos por trás da manifestação, conforme o cientista político, indicam “inúmeras vertentes de postura, de atitudes e de conceitos que tem a direita, incluindo as partes contraditórias”.

“Isso pode refletir na eleição de 2022 a medida que todos defendem, mesmo com suas diferenças e interesses políticos, a reeleição do presidente Bolsonaro. Nada disso que está acontecendo fortalece a unidade política eleitoral para 2022”, avalia Carlos Santiago.

Apadrinhamento Político

Já outro cientista político, Helso do Carmo, pontua que não se sabe o resultado das manifestações desta terça-feira, 7, e que a maior parte tenta uma “carona política” na gestão e futura candidatura do presidente Bolsonaro. Além disso, outra manifestação, a do “Grito dos Excluídos”, deve ocorrer no dia 7 de setembro, como é tradicionalmente feita desde 1995.

“Nós temos um grupo de bolsonaristas, aquelas pessoas por convicção e outros por carona, que tentam acompanhar e serem seguidores do presidente Bolsonaro. Eles não são liberais, mas uma espécie de nacionalistas. Às vezes, de extrema direita. Dentro desse grupo, alguns tentam pegar carona na simpatia que o presidente teve nas últimas eleições no Amazonas”, avalia. “É bom lembrar que dos 62 municípios, Bolsonaro ganhou apenas em três. Somente em Manaus houve uma margem de vitória. Esse grupo tenta ter a ‘etiqueta Bolsonaro’ para conseguir algum êxito nas eleições do ano que vem”, completa.

Do Carmo salienta que dos 11 parlamentares em Brasília, apenas um não pertence ao movimento de direita, o deputado federal José Ricardo Wendling, do Partido dos Trabalhadores. Os outros dez pertencem a grupos que variam de centro-direita até uma extrema direita e é o que deve ser realçado nas manifestações da independência.

Divisão 

O cientista político analisa, assim como Carlos Santiago, que existam ao menos três linhas definidas dentro dos grupos bolsonaristas para as movimentações desta terça-feira, 7. O primeiro é o do deputado federal Silas Câmara tentando “conquistar” os fiéis das igrejas evangélicas e pentescostais. Os outros dois tentam se alinhar ao estilo militarista do presidente.

Um é comandado pelo empresário Romero Reis e conta com o ex-deputado Chico Preto, o deputado federal Delegado Pablo (PSL) e outros parlamentares. Já outro grupo tem como líder Coronel Menezes, que já dirigiu a Suframa e coloca-se como porta-voz do presidente no Amazonas.

“Eu diria que o que une Romero Reis, Silas Câmara e Coronel Menezes é apenas a tentativa de querer o ‘abraço único’ do presidente. De resto, eles têm visão e pessoas que transitam no grupo deles bem distintas. Eles não conseguiriam sentar à mesma mesa por conta de uma intolerância, pois grupos extremados são extremamentes intolerantes. Eu diria que também existe uma vaidade individual, uma vez que cada um visa as eleições do ano que vem”, diz.

De acordo com o cientista político, os três representantes não chegam a um ponto comum sobre quais cargos disputarão em 2022. “Cada um segue um caminho com uma ‘espécie de microfone’ mais alto que o outro querendo gritar, como se nessa base eles fossem conseguir o apoio da população. O que nós iremos observar, eu acredito, é uma tentativa de chamar atenção para, no futuro, ter a ‘bênção’ do presidente Bolsonaro para a campanha do ano que vem”, analisa.

As manifestações em apoio ao presidente ocorrem em três pontos nesta terça-feira: no complexo turístico da Ponta Negra, Zona Oeste, no Centro, Zona Sul, e na Bola da Suframa, também Zona Sul. Todos estão marcados para começar às 15h. Já o Grito dos Excluídos e Excluídas, outra manifestação realizada pela Igreja Católica, deverá começar no Terminal 1, também no Centro.

 

Priscila Rosas, para O Poder

Foto: Divulgação 

Edição e Revisão: Alyne Araújo e Henderson Martins

 

 

 

 

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