março 14, 2025 09:01

‘Ou se decreta lockdown severo ou tragédia vai se aprofundar em Manaus’, diz pesquisador da Fiocruz

“Ou se decreta um severo ‘Lockdown’ em Manaus, com ao menos 21 dias de duração, ou veremos esta tragédia se aprofundar ainda mais, ceifando centenas de vidas e causando mais sofrimento e dor para milhões de amazonenses e angústia na humanidade como um todo”. A afirmação é do epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana.

Jessem, desde o ano passado vem defendendo um confinamento geral no Estado e afirmando que o Amazonas iria passar por uma segunda onda mais severa.

O Amazonas chegou à segunda onda de casos da Covid-19 e, na quarta-feira, 20, bateu mais um recorde com mais de 5 mil casos novos de pessoas infectadas pelo vírus. O sistema de saúde do Estado entrou em colapso no mês de janeiro com pacientes morrendo asfixiados em leitos de hospitais pela falta de oxigênio medicinal, gerando desespero de familiares que aguardam por notícias do lado de fora das unidades de saúde.

Em texto escrito e publicado pelo pesquisador nas suas redes sociais na manhã desta quinta-feira, 21, Jesem afirma que Manaus é o laboratório, a céu aberto, onde todo tipo de negligência em barbaridade é possível, sem punição e qualquer ameaça à hegemonia dos responsáveis pela (não) gestão da epidemia nos mais diferentes níveis.

“A regra parece ser deixar o vírus correr livre, horrorizando a humanidade, com direito a nova variante cujas consequências são imprevisíveis”, escreveu.

No início do texto, o pesquisador lembra que há 40 dias previu e alertou que janeiro seria o mês das lamentações e do luto. “Está mais do que confirmada e, por mais desumano e monstruoso que pareça, em Manaus, capital mundial da COVID-19, não há qualquer sinal de Lockdown”.

O pesquisador também destaca o número explosivo de sepultamentos entre 13 e 19 de janeiro desse ano como indicador da gravidade da pandemia. “Com uma média diária de 191, um padrão inédito na história de Manaus e quase 6 vezes maior do que o padrão habitual. A média diária de mortes em domicílio, um fenômeno fortemente observado na primeira onda entre 13 e 19 de janeiro de 2021, foi de aproximadamente 27”, disse.
Jesem também chamou a atenção para o indicador de mortes em domicílio após enfermarias de hospitais terem sido transformadas em câmaras de asfixia. “É interessante refletir sobre o indicador de mortes em domicílio, já que Manaus chocou a humanidade em 14 de janeiro, quase que exclusivamente, pelo fato de suas enfermarias hospitalares terem sido transformadas em espécies de câmaras de asfixia, já que dezenas de vítimas foram a óbito sem oxigênio medicinal. Não foi coincidência Manaus ter sepultado, inacreditavelmente, 213 mortos no dia seguinte”.
“Em média, 27 pessoas morreram em casa, sendo que boa parte pode ter acabado sufocada e ocasionado danos psicológicos irreversíveis em familiares e entes queridos. Lembro que esse tipo de morte sem assistência médica tem acontecido com frequência e deve continuar. Imaginem nos 61 municípios do interior do Amazonas, onde as pessoas também morrem asfixiadas e não existe leito de UTI?”, complementou.
O pesquisador alerta que, apesar da vacinação contra o vírus ser uma “alentadora” realidade, os benefícios só serem sentidos nos próximos meses e, por isso, defende que medidas emergenciais sejam tomadas.
Jesem também destaca que a necessidade de observadores internacionais independentes alegando que os diferentes níveis de gestão à frente da pandemia não são confiáveis.
“Precisamos urgentemente de observadores internacionais independentes ligados à Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e à Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (CNUDH), pois não é mais possível confiar nos diferentes níveis de gestão que estão à frente da epidemia em Manaus.
Precisamos, salvar vidas e não aprofundar a tragédia sanitária e humanitária de 2020 em 2021. É nosso dever defender a boa ciência e o SUS! Vidas importam!”, finaliza.
Álik Menezes, para O Poder
Foto: Divulgação

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